Quando ouvimos a palavra cancro, o chão do nosso mundo treme. Mas o que muitas vezes não se vê — e que eu própria só fui percebendo com o tempo — é que não caminhamos sozinhas. Existem mãos, vozes, olhares e saberes que se cruzam para cuidarem de nós. E há também exames, nomes estranhos, siglas difíceis e relatórios que quase parecem escritos noutra língua… Mas, na verdade, tudo faz parte de uma engrenagem que existe por uma única razão - a de nos ajudar a viver.

Ao longo dos capítulos do meu blog, à semelhança do que faço no Guia - A minha Mama, quero muito falar-vos da importância do olhar transparente e humano sobre diversos pilares da jornada oncológica. Para mim é quase como abrir portas que permanecem entreabertas — não por segredo, mas por falta de tempo, explicação, linguagem ou informação. 
E a verdade é que quando compreendemos o que está a acontecer connosco, de alguma forma, o medo vai se apaziguando, a confiança aumentando e a jornada vai se tornando mais leve.

Este será o primeiro de vários capítulos dedicados a reforçar a literacia em saúde — capítulos que nascerão do meu desejo profundo de clarificar.
Neste artigo em particular, vamos descobrir quem é quem na sua equipa de tratamento e o que significam os exames mais comuns ao longo do acompanhamento oncológico.


A equipa que acompanha — quem faz o quê.

O tratamento do cancro é um processo complexo que envolve várias especialidades a trabalhar em conjunto, em que cada uma tem um papel essencial.

Senologista
É a especialidade que diagnostica, estuda e trata as doenças da mama.

Oncologista
É a especialidade responsável pelo diagnóstico e tratamento dos cancros.
O médico oncologista acompanha todo o processo, desde o planeamento dos tratamentos até ao seu seguimento, durante e após a sua realização. 

Cirurgião
Responsável pela remoção do tumor quando a cirurgia é necessária.
Decide quanto retirar e como preservar funções.

Radioncologista
Especialista em radioterapia.
Define exatamente onde e como aplicar a radiação para destruir as células cancerígenas.

Radiologista
O profissional que interpreta as TACs, ressonâncias, ecografias e mamografias.
É muitas vezes quem deteta primeiro o que está a acontecer.

Anatomopatologista
Analisa as biópsias e diz exatamente o tipo de cancro que se tem, quão agressivo é e quais as suas características biológicas.
Sem este relatório, o tratamento seria como que um tiro no escuro.

Enfermeiros Oncológicos
A linha da frente: quem acompanha no dia a dia, nas sessões de tratamento e nas dúvidas.
Traduzem a medicina para a vida real e ajudam a lidar com sintomas e efeitos secundários.

Psicólogo Oncológico
Apoia a gerir o medo, a ansiedade e a avalanche emocional que a doença traz consigo.

Fisiatra e Fisioterapeuta
Estas duas especialidades complementam-se, promovendo a reabilitação, recuperação do movimento e melhorando a qualidade de vida.

Nutricionista 
Ajuda no planeamento de uma alimentação baseada em evidência que apoia o tratamento, reduz toxicidade e fortalece o corpo.


Os exames - o que são e para que servem.

Entre siglas, máquinas, contrastes e relatórios, os exames fazem parte do quotidiano do tratamento.

Análises de Sangue
Revelam como o corpo está a funcionar e a reagir, nomeadamente os órgãos, sistema imunológico, células sanguíneas, marcadores tumorais, sinais de toxicidade do tratamento, entre muitos outros.

Biópsia
É a recolha de uma amostra de tecido de um determinado órgão para ser analisada em laboratório e se perceber se há ou não a presença de células cancerígenas. É o exame que pela observação do anatomopatologista revelará a tipologia do cancro e que irá ajudar a escolher o tratamento mais indicado. A amostra é obtida através de uma agulha fina.

Cintigrafia Óssea
É uma ferramenta de diagnóstico que fornece informações valiosas sobre o metabolismo e a saúde dos ossos. Permite identificar eventuais metástases ósseas.
Utiliza moléculas com um componente radioativo. O exame é indolor e não invasivo.  

Mamografia
Técnica de imagem dirigida ao estudo da mama. A mamografia é utilizada para o diagnóstico precoce do cancro da mama.
Utiliza raios X e raios gama.

PET (Tomografia por Emissão de Protões)
Mostra não só a forma dos órgãos, mas também a atividade das células. A combinação de PET e TAC permite localizar com precisão os tumores numa área do corpo ou órgãos.
Utiliza moléculas com um componente radioativo, o chamado radionuclídeo. O exame é indolor e não invasivo.  

RM (Ressonância Magnética)
Através de ondas magnéticas capta imagens super detalhadas dos órgãos.
Não usa radiação.

TAC (Tomografia Axial Computorizada)
É utilizada para avaliar a extensão da doença, onde está localizado o tumor, como está a evoluir o tratamento ou detetar eventuais metástases.
Utiliza raios X.

TAC TAP (Tórax - Abdómen – Pelve)
O mesmo exame que o anterior, mas tem a particularidade de analisar em simultâneo estas três áreas do corpo.

Exames específicos
Ultrassons, colonoscopias, endoscopias e outros exames dependem do tipo de tumor.
Existem muitos outros, naturalmente. E todos são prescritos de acordo com o tipo de cancro que se tem e das queixas que se vão sentindo.

Porque são tantos os profissionais e exames?

Apesar de parecer um labirinto, há uma ordem lógica:
A biópsia diz o que tem.
Os TAC/RM/PET mostram onde está.
As análises revelam como está.
A equipa multidisciplinar decide o que fazer.

A minha reflexão final sobre este capítulo:
Quanto mais se percebe o caminho, mais se consegue participar nele — e não apenas ser levado por ele.

Com amparo,
Sandra 

Fonte:
Guia - A minha Mama
Pequeno dicionário da Sociedade Portuguesa de Senologia

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